Cenário precisa se refletir em transformações dos espaços internos e externos dos edifícios, segundo presidente da BR Properties
Flexibilidade se transformou na palavra de ordem no mercado de escritórios de alto padrão. Um processo que apenas engatinhava e que seria concluído em 10 ou 15 anos, foi acelerado e se tornou realidade em menos de um ano. Flexibilidade que significa não só alternar dias de trabalho presencial com home office, mas oferecer áreas verdes e abertas e onde o funcionário pode trabalhar num lounge sem necessidade de estar numa mesa interna; mais conforto com opções de serviços, dentro e fora do prédio; transporte público próximo e apoio às alternativas de transportes, como bicicletas e patinetes, com vestiários apropriados. Um novo conceito de edifício triple A se consolidou após a interrupção brusca do trabalho em março de 2020.
“O que era um prédio triple A antes de 2015 ou 2016? Era atender especificações técnicas, como fachada com granito e pé direito alto, por exemplo. Isso é commodity. Hoje, além de atender as especificações técnicas, se não tiver outras duas bases, de serviços e transporte, não é mais um triple A”, disse o presidente da BR Properties, Martín Jaco, durante Live do Valor.
O adensamento de funcionários está sendo substituído por espaços mais arejados, bem iluminados, com melhor trocar de ar. E Jaco alerta que quem não fizer essa transição terá dificuldades em reter talentos. “Essas mudanças vieram para ficar. Quem oferecer isso vai reter talentos”, afirma.
Antes mesmo da pandemia, conta o presidente, a BR Properties já tinha iniciado essa transição. Segundo ele, desde 2015, a companhia começou a adequar seu portfólio de escritórios, em São Paulo e no Rio de Janeiro, para ativos com esse perfil. “Está havendo um novo ‘flight to quality’”, afirma. A empresa oferecia aos ocupantes, em parte dos prédios, por exemplo, tecnologia de reconhecimento facial. Com a covid-19, as possibilidades tecnológicas se ampliaram. Hoje, um funcionário pode chegar à sua mesa de “trabalho sem tocar em absolutamente nada”, incluindo catracas e elevadores. A checagem de temperatura e uso da máscara, além de divisórias de acrílico na recepção, são outras iniciativas incorporadas com a pandemia.
Segundo o executivo, as empresas estão buscando desenvolver layouts internos flexíveis. “Não adianta mais cada pessoa passar oito, nove horas por dia na mesma mesa”, diz o executivo. No novo cenário, acrescenta, o trabalho individual poderá ser feito da mesa de cada funcionário, mas as reuniões ocorrerão em espaços abertos ou salas com equipamentos necessários para teleconferência. Cresceu também a necessidade de mais “áreas de descompressão”, como espaços para café não só nos escritórios, como nos edifícios.
À medida que a vacinação contra a covid-19 avança, a retomada das atividades presenciais fica mais próxima para muitas empresas.
Até agosto, a ocupação dos escritórios por inquilinos da BR Properties correspondia a fatia entre 20% e 25% do número de pessoas, nos edifícios, anteriormente à pandemia. “Pela programação das empresas com quem conversamos, a ocupação deve ser de 30% a 35% em setembro”, diz Jaco. A cada semana, mais pessoas estão ocupando os escritórios. “É melhor voltar com cuidado, mas de maneira mais definitiva”, afirma.
Nos seis primeiros meses de pandemia, o mercado de escritórios parou diante das incertezas em relação ao que iria acontecer. De acordo com Jaco, empresas suspenderam processos de locação e expansão, e houve mais devoluções do que contratações de áreas, no período, em São Paulo e no Rio.
A partir de outubro, processos de expansão e busca de novas localizações começaram a ser retomados. Desde 2020, as contratações de áreas chegaram a 900 mil m2 nos dois mercados em que a BR Properties atua, segundo o executivo. A vacância da companhia está menor do que quando a pandemia começou.
Com o retorno gradual da ocupação dos escritórios e a consequente redução da vacância, o volume de concessões para novos inquilinos está menor do que de março a outubro de 2020, mas ainda superior ao registrado no segundo semestre de 2019 e nos dois primeiros meses do ano passado. Nos contratos já em curso, a BR Properties não tem feito mais concessões, conforme o executivo.
Em 2019, os valores de locação de escritórios tinham começado a se recuperar em relação às quedas de 2017 e 2018. O mercado iniciou bastante aquecido no ano passado. Com a pandemia, a expansão foi interrompida, e houve retorno aos patamares do primeiro semestre de 2019. “Os fundamentos para essa recuperação permanecem”, diz Jaco, citando expectativa de oferta reduzida por cinco anos, demanda maior por empreendimentos triple A e retomada da ocupação.
“Acredito que, em 2022, começaremos a ver a retomada do ciclo de alta, em São Paulo. No Rio, talvez a gente comece a ver algum tipo de movimentação no fim de 2022 ou início de 2023”, afirma o presidente da BR Properties.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/09/06/flexibilidade-e-o-novo-normal-nos-escritorios.ghtml
Por Chiara Quintão, Ana Paula Machado e Carlos Prieto — De São Paulo