Mercado cresce com avanços na tecnologia embarcada e queda no custo das baterias
Estudo realizado pelo grupo de pesquisas BloombergNEF estima que o mercado global de veículos elétricos vai movimentar US$ 7 trilhões até 2030. O volume deve ser alimentado pelos avanços na tecnologia embarcada, queda no custo das baterias, novas ofertas das montadoras e aumento da infraestrutura de recarga – que vai precisar de US$ 589 bilhões em investimentos para suportar a demanda.
Segundo o levantamento, há dez milhões de unidades de passeio nesse padrão, parcela que representa 4% do total de vendas globais de automóveis. No Brasil, empresas de setores como serviços, varejo e alimentação anunciam metas para aumentar o número de modelos elétricos em frotas próprias e terceirizadas.
Luiz Fernando Porto, CEO da locadora de veículos Unidas, com 178,6 mil unidades em circulação, afirma que a marca conta com 400 veículos eletrificados. A iniciativa começou em janeiro de 2020, com um modelo de furgão para clientes de frotas corporativas. Esse veículo exige menos manutenção e pode reduzir em até 65% o gasto com combustíveis, garante. “Iremos agregar ‘milhares’ de unidades eletrificadas até 2027”, diz o executivo, sem abrir números.
Porto explica que os aportes integram uma estratégia de longo prazo de projetos ESG (sigla em inglês para boas práticas ambientais, sociais e de governança). Em julho, a companhia lançou um programa de carbono neutro, com a meta de neutralizar toda a emissão de carbono e gases de efeito estufa (GEE) da frota, até 2028. O grupo utiliza etanol em 93% dos veículos. O recurso emite 111 vezes menos gases por quilômetro rodado do que a gasolina, afirma.
De acordo com a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), há cerca de 1,2 mil automóveis elétricos ou híbridos disponíveis para locação no Brasil. Em 2018, eram 600 unidades.
Na Panvel, rede de farmácias com 490 lojas, a ideia é trabalhar com cinco caminhões elétricos para entregas, nos próximos meses, em parceria com a empresa de logística Reiter Log. “O primeiro veículo começa a rodar ainda em setembro, em Porto Alegre”, diz Maria Schneider, diretora de pessoas, cultura e sustentabilidade do Grupo Dimed, dono da Panvel.
A rede já faz entregas com bikes e triciclos elétricos na capital gaúcha, em Florianópolis, Curitiba e São Paulo. O objetivo é atingir 25% da frota com modelos sustentáveis, até 2026, diz. O planejamento, que inclui acordos com parceiros de serviços de entregas, será baseado em um inventário de emissão de GEE, a ser realizado até o próximo ano.
Em paralelo às ações de logística “verde”, a Panvel conta com cinco usinas para produção de energia fotovoltaica no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O recurso segue para 40% das lojas de rua e a intenção é cobrir as necessidades de todos os pontos de venda, até o final de 2022. Outras quatro plantas estão sendo planejadas.
Na avaliação de Susana Carvalho, diretora da JBS Ambiental, unidade de negócios que faz a gestão dos resíduos sólidos gerados nas fábricas do grupo JBS, o uso de veículos elétricos entra na conta das organizações que assumem planos ambiciosos de descarbonização. “Essa estratégia faz parte do compromisso da JBS de ser net zero até 2040″, garante. Ser net zero significa não adicionar novas emissões à atmosfera e eliminar as emissões indiretas, geradas por fornecedores e clientes.
A gigante de alimentos conta com um caminhão elétrico em operação no Brasil, que roda em Santa Catarina, entre Balneário Camboriú e Itajaí. “Trinta novos veículos foram adquiridos e começam a rodar pelo país, até fevereiro de 2022.” Além disso, o grupo comprou em julho o caminhão elétrico de entregas lançado este ano pela Volkswagen, o e-Delivery, que deve circular em São Paulo a partir de outubro.
Carvalho lembra que a produção de carros elétricos no Brasil ainda é incipiente. De acordo com informações da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), em 2020, as vendas de unidades elétricas e híbridas chegaram, pela primeira vez, a 1% das entregas totais. Em julho de 2021, dado mais recente, essa participação alcançou 2,2%.
Para acompanhar a demanda, empresas que operam com recarga de veículos olham para o futuro. Criada em 2019, a Tupinambá Energia atua em quatro Estados (SP, RJ, MT e MS) e no Distrito Federal por meio de um aplicativo que localiza mais de 750 pontos de recarga – em 2020, operava somente na capital paulista.
Do total, faz a gestão completa de carregamento em 40 pontos, com o intuito de chegar a 100 até o fim do ano, segundo o CEO Davi Bertoncello.
https://valor.globo.com/publicacoes/suplementos/noticia/2021/09/21/empresas-ampliam-frotas-proprias-com-modelos-eletricos.ghtml
Por Jacilio Saraiva — Para o Valor, de São Paulo