A percepção do impacto da pandemia de Covid-19 tem reduzido nas empresas brasileiras. A crise atingiu negativamente 33,5% das empresas na segunda quinzena de agosto. Já a quinzena anterior apontava para 38,6% do volume de negócios. Os dados são da última edição da pesquisa Pulso Empresa, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no último dia 1º de outubro.

Neste cenário de percepção melhorada, empresários têm olhado para oportunidades de retomar planos de expansão nos negócios. Observando com cautela riscos jurídicos e econômicos, advogados empresariais não só têm assessorado empresas, como também executado suas próprias estratégias de crescimento.

Mesmo com a pandemia, respeitando todos os protocolos de saúde, o BVZ Advogados, especializado em resolução de disputas complexas, recuperações judiciais e falências e direito tributário, decidiu inaugurar um novo escritório na Avenida Paulista, próximo ao MASP, com capacidade para dobrar seu número de profissionais. “O início da pandemia no Brasil foi um momento de muita incerteza, com os clientes segurando o máximo de caixa possível e pedindo postergação do vencimento dos nossos honorários. Sem dúvidas, nossos planos de expansão e investimentos em estrutura física nos deixaram apreensivos. A partir de abril e maio, o fluxo de pagamento foi retomando gradualmente. As operações de fusões e aquisições (M&A) retomaram, tendo em vista os preços baixos de ativos bons, e a desvalorização do real frente ao dólar, que incentivou empresas estrangeiras a adquirirem ativos brasileiros”, diz Ivo Bari, sócio do BVZ Advogados.

Na última semana, o escritório de advocacia full-service Mazzucco & Mello Advogados anunciou expansão de seu quadro de profissionais de alta senioridade. Chegaram o sócio Guilherme Martins, especialista em Direito Tributário e diretor jurídico da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), e o consultor sênior Cesar Rezende, que tem mais de 15 anos de experiência em consultoria em Direito Público nas áreas de infraestrutura, processos administrativos e infraestrutura no mercado financeiro. “Estamos entusiasmados com a chegada de Cesar Rezende e Guilherme Martins, que é parte fundamental da nossa estratégia de crescimento, devido aos seus reconhecimentos de mercado”, explica o sócio-fundador do escritório, Antonio Mazzucco.

Na esteira das reflexões sobre o plano de negócio, outro caso interessante é a advogada Carla Junqueira, especialista em comércio internacional, que mudou seu escritório para a Argentina durante a pandemia, por motivos pessoais, mas continua atendendo às empresas brasileiras. “A pandemia mostrou que estávamos no caminho correto. Sempre mantivemos os custos administrativos baixos. Pagamos muito pouco pela estrutura física. Os nossos maiores custos são os profissionais, de alto nível técnico, formação e marketing. Home office e flexibilidade sempre foram pilares do escritório”, explica.

Ouvimos especialistas sobre oportunidades e riscos para avaliar planos de expansão neste cenário de retomada.

  1. Revise o plano de negócios

Para o CEO da LCC Auditores e Consultores, Marcello Lopes, no momento atual o empresário deve colocar em prática todo seu conhecimento do negócio e buscar alternativas de forma consciente e planejada. “Descomplique, seja realista e não tenha medo de errar. Tenha ousadia e capacidade de tomar decisões. Olhe para a concorrência e veja como ela está se portando. Neste sentido, o plano estabelecido para o negócio deverá ser seu amigo incondicional. Seu planejamento deve ser revisto e atualizado constantemente, atento ao impacto gerado no seu fluxo de caixa pelas medidas implementadas. Óbvio que novas tecnologias, novos canais de vendas e busca por financiamento podem auxiliar neste momento, mas a tomada de decisão de qual caminho seguir deve ser consciente, planejada, rápida e monitorada, sempre”, aponta.

  1. Se puder, avalie pequenas, novas e promissoras estruturas

Há profissionais experientes ou de alta qualificação que têm olhado para a pandemia como uma oportunidade de reavaliação de carreira ou de modelo de negócio. Para Ivo Bari, do BVZ Advogados, “a tendência em momentos de retração econômica é que as oportunidades de crescimento em estruturas já montadas e consolidadas se tornem cada vez mais raras”. Utilizando o exemplo dos escritórios de advocacia, o especialista em contencioso e arbitragem aponta que “com a diminuição do número de vagas de sócios, as pessoas que não estão dispostas a esperar a ‘sua vez’ devem migrar para empreender e abrir seus próprios escritórios. Para os mais jovens, entendo que eles querem ter mais experiências, autonomia e contato direto com sócios e clientes cada vez mais cedo, e isso só pode ser proporcionado em estruturas mais enxutas”.

Ele ainda aponta que estruturas menores podem ser mais dedicadas a serviços especializados. “Na minha área, de contencioso, os trabalhos mais estratégicos e de maior complexidade estão nas boutiques especializadas, e não nos grandes escritórios. O trabalho em uma estrutura menor tem ainda outras vantagens, como maior dinamismo, oportunidades de crescimento e liberdade para conduzir os casos com maior autonomia. Além disso, escritórios boutiques tendem a ter culturas menos hierárquicas e mais horizontalizadas, e ambientes mais informais e jovens”, explica.

Para Marcello Lopes, a crise pode levar os empresários a tomarem decisões que em momentos considerados normais não seriam efetivadas devido a uma zona de conforto.  “Isso pode levar-nos a buscar novas oportunidades de negócios, até por uma questão de sobrevivência. Pode significar uma alteração na forma de conduzir e operar o negócio inicialmente concebido. Oportunidades sempre existirão e cabe ao empreendedor enxergá-las, tomar a decisão de desenvolvê-las e colocá-las em prática”, explica.

Já a advogada Carla Junqueira traz uma recomendação para os empresários que buscam a internacionalização: “Minha sugestão seria iniciar o processo de internacionalização por meio eletrônico. O e-commerce ou a prestação de serviços a distância é a forma menos arriscada e mais barata para sentir a temperatura do mercado antes de tomar a decisão de estabelecer presença física”.

  1. Vale olhar para fusões e aquisições aquecidas

Os especialistas apontam que empresas têm mirado oportunidades de adquirir bons ativos a preços mais baixos, tendo em vista a necessidade de liquidez que muitos empresários estão enfrentando.

A expectativa é que o volume de transações cresça 18% em 2020, no País, de acordo com levantamento divulgado no último mês de setembro pela Consultoria Euromonitor e publicados pela coluna Radar Econômico, da Revista Veja.

“Vemos muitos investidores estrangeiros voltando a olhar o Brasil, pois a depreciação do real frente ao dólar acaba deixando o Brasil barato para eles realizarem aquisições. Quem tem caixa, nesse momento, está em uma posição muito boa para aproveitar esses fire sales”, explica Ivo Bari, do BVZ Advogados.

  1. Atenção aos contratos de aluguel de imóveis

O setor de locação corporativa está passando por uma fase de incerteza. Para o advogado Ivo Bari, ainda não é possível prever como as empresas reagirão na volta do distanciamento social. Parece haver uma tendência para o aumento do trabalho a distância, expansão de políticas de home office e redução de custos com aluguel. “Isso deixa os proprietários de imóveis corporativos apreensivos e talvez mais tendentes a aceitarem aluguéis menores, para manter os imóveis locados. Infelizmente, há também muitas empresas que não sobreviveram a atual crise. Isso gerará um aumento nos índices de desocupação e também pode incentivar os proprietários a serem mais maleáveis nos termos da locação”.

Fonte: Lider.inc

08 out

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