Levantamento de informações, baseado no relacionamento de mercado, revela um quadro preocupante para grande parte de pequenas e médias empresas. Subjugadas pela política de sufocamento econômico durante a pandemia da covid-19, a maioria está com seríssimos problemas de capital de giro e fluxo de caixa e, para piorar, sem crédito e vulneráveis, pois não têm quem os apoie de forma efetiva. Por outro lado, para a opinião pública, muitos são malvistos pelas medidas emergenciais tomadas para manter o negócio. Pagar ou não impostos, torna-se a dúvida da vez, renegociações de contratos, torna-se primordial.
Enfim, no meio de um incêndio que não causaram, estão sem bombeiros para apagar o fogo e recolher e tentar reconstituir das cinzas algo que possa gerar receita.
Esta síntese de percepção em tom de desabafo sobre o momento atual foi transmitida por dirigentes de quase três dezenas de empresas abordadas em contatos telefônicos por integrantes do time da empresa que dirijo. O relato foi tão pungente que senti a necessidade de compartilhar essa dor empreendedora que está colocada em segundo plano, ou que nem se comenta nos noticiários. Isto está acontecendo com centenas de milhares de empresas que estão sendo abatidas por essa nova realidade e que já vinham tentando se recuperar de alguma forma.
Com tudo isso, vi que precisava reaprender a fazer o meu trabalho. Agora, em terra arrasada e com uma necessidade extraordinária de reinvenção. Isso mesmo. O momento suplica por reinvenção e isto não é uma tarefa fácil, pois teremos que nos adaptar muito rapidamente ao momento e, sobretudo, a um futuro incerto, cujas projeções de cenários são revistas diariamente.
Na prática, muitas empresas não terão condições de voltar ao mercado e outras tentarão sobreviver “respirando por aparelhos”, resilientes. Por isso é que disponibilizar linhas de crédito com taxas de juros ditas baixas não são suficientes para empresas que já estavam operando no crédito rotativo e com sérias dificuldades para gerenciar o seu caixa. Postergar o pagamento de impostos significa postergar o problema, e ainda na expectativa que o governo anuncie um novo “refis”.
Por outro lado, o Governo não dispõe de caixa para auxiliar a população e empresas. Os bancos privados exigem que o governo seja garantidor de linhas de créditos a pequenas e médias empresas, preocupados com inadimplência.
Estamos vivendo momentos cruéis e que dependerão de um esforço coletivo gigantesco para que a economia não entre em colapso e que o caos social não seja instalado.
A grande maioria das empresas já apresentava dificuldades na gestão dos negócios, a crise sanitária e econômica, aumentaram o problema. A inflação se mantem baixa em decorrência de uma demanda totalmente represada pela quarentena. Caso contrário, os juros baixos e o dólar alto, já teriam impactado negativamente ainda mais a economia. Os três poderes em um conflito que parece não ter fim. Tudo isso contribui para implodir as cadeias econômicas.
O verdadeiro negacionismo está em não reconhecer a dimensão real do que estamos enfrentando.
*Marcello Lopes, doutorando em Gestão de Empresas, mestre em Controladoria e Atuariais, professor em cursos de MBA e pós-graduação, sócio da LCC Auditores e Consultores
Fonte: Estadão