Incentivadas pela possibilidade de ter o trabalho remoto como uma política duradoura na empresa, muitas famílias viram a chance de antecipar a meta de viver no interior do estado. Afinal, para que enfrentar o trânsito de uma grande cidade e problemas de mobilidade quando se é necessário ir ao escritório apenas alguns dias por semana?

 

O resultado foi uma explosão de preços: empreendimentos de médio e alto padrão em cidades fora da região metropolitana chegaram a custar até 108,9% mais em apenas 12 meses. É o que aponta um estudo da consultoria Brain, feito em 65 cidades de São Paulo que registram os maiores números de loteamentos disponíveis, para a EXAME. O estudo compara o segundo trimestre de 2021 com o mesmo período de 2020.

 

Segundo a pesquisa, entre loteamentos fechados, os condomínios, as cidades que mais registraram aumentos de preço foram Itu, a 98 km da capital, no qual o preço do metro quadrado passou de R$ 424 para R$ 886 no período, um crescimento de 108,9%. Em Monte Mor, localizada na região metropolitana de Campinas e onde o metro quadrado custava R$ 524 no segundo trimestre de 2020, já não há mais estoque de unidades em condomínios fechados.

 

Veja abaixo o ranking de alta dos preços de loteamentos fechados:

 

 

Já quando são analisados os loteamentos abertos, que são casas fora de condomínios, o preço subiu mais em Itapeva, a 286 km da capital, onde o metro quadrado passou de R$414 para R$ 681, uma alta de 64.4%. Em Boituva, a 116 km da cidade de São Paulo, os empreendimentos ficaram em média 48% mais caros, e o metro quadrado passou de R$ 442 para R$ 654. Em Cotia, a 32 quilômetros da capital, os preços subiram 43,9%.

 

Veja abaixo as cidades nos quais os empreendimentos fora de condomínios mais subiram de preço:

 

Segundo a Brain, um indicador claro do aquecimento do mercado, além da alta dos preços, é o estoque de imóveis disponíveis, o menor desde 2017. Existem 32 mil unidades à venda nas 65 cidades. Em 2017, eram 61 mil.

 

Em Itu, restam apenas 1,7% do total de loteamentos fechados, foram disponibilizadas 1.236 unidades no mercado. Em Jundiaí, restam 2,4% de 7 empreendimentos lançados. Em Campinas, no final do trimestre haviam apenas 614 unidades em estoque, considerando loteamentos abertos e fechados, porque as vendas estão muito aquecidas na cidade, diz Fabio Tadeu Araújo, sócio diretor da Brain

 

Segundo Rodrigo Gordinho, CEO da plataforma de venda de loteamentos 1M2, municípios localizados de 100 quilômetros a 150 quilômetros da cidade de São Paulo, como Itupeva, Atibaia, Campinas, Itu, Bragança Paulista e Itatiba, são os mais buscados. “Eles atraem o paulista que pode fazer um bate e volta em uma reunião na cidade”. No caso de cidades que ficam a mais de 150 quilômetros da cidade, o perfil, conta Gordinho, é majoritariamente de busca por casas de temporada e finais de semana.

 

Cassia Castro, sócia da Eixo Inteligência Imobiliária, empresa que prospecta e negocia terrenos para incorporadoras no estado, aponta que a tendência atinge também empreendimentos de luxo. Condomínios como Quinta da Baroneza, Fazenda da Grama e Terras de São José, dentre outros, viram a venda de lotes e casas explodir. “Quem tinha imóveis prontos conseguiu vendê-los com ágio de até 50%, algo nunca imaginado no mercado”.

 

Perfil do público e empreendimentos

Jovens e casais com filhos pequenos ainda não se enquadram no perfil do comprador de imóveis no interior, diz o sócio diretor da Brain. “A pandemia acelerou a compra de um público que já vinha sondando unidades nas regiões, que é o de casal com filhos mais maduros, que têm seus próprios carros. São semi aposentados, executivos e gestores, a maioria na faixa dos 50 anos”.

 

O público busca majoritariamente cidades com estrutura de serviços próxima, inclusive varejo, com escola,  atividades esportivas e estrutura de saúde. “A cadeia logística no país se sofisticou por conta do aumento do uso do e-commerce, muitos compradores viram que com tecnologia podem receber qualquer coisa, e não precisam estar em um centro urbano para isso”.

 

A Loteadora Corpal desenvolve empreendimentos no interior de São Paulo e, ao criá-los, busca valorizar áreas verdes e o conceito de qualidade de vida fora das grandes cidades. “O trabalho remoto facilitou o objetivo de morar no interior e trabalhar em São Paulo. Há uma inversão: a segunda casa no interior se tornou a primeira moradia”, diz Fernando Fuziy, CEO da incorporadora.

 

Quem deseja fazer essa migração da grande cidade para o interior busca, geralmente, empreendimentos de padrão mais alto, completa o executivo. “Vemos uma baixa quantidade de estoque de unidades mais caras, diferente das mais populares, que tem mais opções”. Segundo a 1M2, a busca se concentra em condomínios fechados com área de lazer para a família usufruir.

 

Sobre o aumento do preço do metro quadrado, Fuziy ressalta que não foi causado apenas pela demanda, mas também pela explosão de preços dos insumos. “Em nossos empreendimentos aumentamos o preço em 30%. Consideramos um repasse da inflação de materiais”.

 

Outra questão que colabora para o aumento dos preços é um tempo maior para aprovação de projetos, que chegam a ter 700 unidades. “Isso valoriza os empreendimentos prontos, já que torna mais difícil suprir a demanda, que explodiu”.

 

Condomínios fechados

Município Total Lançado Estoque Disponibilidade sobre o total lançado Preço Médio Preço/m²
Cotia 2.859 502 17,6% 147.625 168 877
Indaiatuba 3.956 430 10,9% 354.587 353 1.004
Araçatuba 3.408 413 12,1% 140.066 292 480
Piracicaba 1.489 382 25,7% 224.492 341 658
Ribeirão Preto 2.143 204 9,5% 184.047 268 687
Bragança Paulista 1.105 272 24,6% 192.664 460 418
Jundiaí 1.737 41 2,4% 423.885 389 1.089
São José dos Campos 1.794 71 4,0% 371.107 511 726
Sorocaba 1.433 215 15,0% 257.743 514 502
Araraquara 1.378 329 23,9% 123.655 244 506
Boituva 834 163 19,5% 186.195 382 488
Campinas 1.424 329 23,1% 489.434 454 1.078
Leme 1.742 620 35,6% 199.016 346 575
Mogi Mirim 1.510 448 29,7% 138.445 280 495
Nova Odessa 1.542 32 2,1% 162.869 251 650
Araras 1.293 116 9,0% 157.880 324 487
Marília 901 202 22,4% 282.209 376 751
São José do Rio Preto 2.294 258 11,2% 234.780 274 858
Birigui 1.145 221 19,3% 113.844 279 408
Itu 1.236 21 1,7% 396.478 447 886

 

Loteamentos abertos

Município Total Lançado Estoque Disponibilidade
sobre total lançado
Preço Médio Preço/m²
São José do Rio Preto 6.269 797 12,7% 94.053 200 470
Franca 3.451 42 1,2% 143.445 228 628
Fernandópolis 3.151 304 9,6% 68.994 270 256
Itapetininga 3.703 824 22,3% 69.146 175 395
Ribeirão Preto 4.291 482 11,2% 138.607 216 642
Bady Bassitt 3.445 249 7,2% 55.287 193 286
Campinas 4.840 1.771 36,6% 110.245 160 689
Cotia 2.238 795 35,5% 114.115 162 704
Matão 3.800 622 16,4% 78.293 206 380
Piracicaba 3.466 291 8,4% 116.627 179 651
Sertãozinho 3.130 310 9,9% 80.766 222 364
Araras 2.021 516 25,5% 102.917 226 456
Birigui 1.672 337 20,2% 81.517 252 323
Ibitinga 2.720 306 11,3% 66.434 195 340
Pirassununga 3.222 639 19,8% 59.257 209 283
Pitangueiras 2.925 815 27,9% 46.487 178 261
Salto 3.434 961 28,0% 99.923 179 558
Araraquara 2.748 121 4,4% 92.444 233 397
Barra Bonita 973 99 10,2% 62.250 186 335
Batatais 2.285 353 15,4% 58.278 250 233
Itápolis 1.882 298 15,8% 78.312 323 242
Penápolis 1.457 132 9,1% 68.590 278 246
Presidente Prudente 3.933 1.295 32,9% 68.631 161 427
Sorocaba 2.739 642 23,4% 111.125 179 619
Barretos 2.151 485 22,5% 86.003 235 367
Serrana 2.162 53 2,5% 96.747 207 468
Bragança Paulista 2.016 175 8,7% 103.665 179 581
São Manuel 2.063 583 28,3% 62.681 208 301
Catanduva 1.820 141 7,7% 75.926 202 376
Mococa 1.765 152 8,6% 58.792 248 237
Mogi Guaçu 1.502 216 14,4% 80.186 200 401
Assis 1.444 76 5,3% 81.544 250 326
Boituva 1.223 334 27,3% 112.652 172 654

 

https://invest.exame.com/invest/pandemia-provoca-boom-de-imoveis-no-interior-e-precos-sobem-ate-108?utm_source=pushnews&utm_medium=pushnotification

 

11 out

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