CEO do BNP diz que bancos devem ajudar empresas na transição rumo a uma economia de baixo carbono

 

A agenda de sustentabilidade deve dominar as discussões no setor financeiro nos próximos anos, com os bancos exercendo um papel fundamental em ajudar as empresas na transição para uma economia de baixo carbono. Essa é a visão de Ricardo Guimarães, que assumiu o comando da operação brasileira do BNP Paribas no ano passado.

 

“Nos próximos cinco anos, fazer a transição para uma economia que incorpore a temática da sustentabilidade será essencial. Isso é importante tanto do ponto de vista de concessão do crédito quanto do ângulo dos investidores, pois as gestoras estão cada vez mais olhando seus investimentos sob esse aspecto. Se após a crise de 2008 os reguladores em todo o mundo se preocuparam muito com a questão da liquidez, da solvência dos bancos, agora eles vão olhar para a agenda ESG”, comenta Guimarães.

 

O BNP anunciou uma política segundo a qual deixará de financiar companhias que compram carne ou soja de áreas desmatadas nas regiões da Amazônia e do Pantanal. 

 

A transição vai até 2025 e o banco tem acompanhado as empresas da cadeia para entender em que estágio se encontram. Apesar de não ter exposição direta a grandes processadoras de proteínas ou produtores de soja, o BNP tem participação relevante no financiamento de boa parte da cadeia, desde insumos agrícolas, como fertilizantes e sementes, até o trecho “da porteira para fora”, na distribuição e comercialização. “Precisamos ser capazes de rastrear toda a cadeia e percebemos que as grandes companhias do setor já têm se movimentado nessa direção.”

 

O executivo conta que o banco tem se engajado em diversos fóruns de discussão sobre a questão da sustentabilidade e afirma que as instituições financeiras, de maneira geral, têm mostrado bastante comprometimento na busca da neutralidade de carbono até 2050, em linha com os objetivos do Acordo de Paris. “Um aspecto muito importante é atingir a neutralidade de carbono dentro da carteira de crédito e de investimento do banco. O Brasil, apesar de todo barulho que possa haver, é um dos países mais bem posicionados para atingir esse objetivo. Não precisa de novas tecnologias, não precisa criar nada, já está tudo aí.”

 

Ele conta que este ano o BNP já participou de dez emissões de dívida com critérios ligados à sustentabilidade. “Se hoje o mercado coloca algumas métricas de sustentabilidade dentro de uma emissão de bonds, por exemplo, e a empresa tem de cumpri-las para ter uma taxa de juros mais baixa, no futuro isso vai ser incorporado naturalmente dentro do processo de avaliação de crédito.”

 

O banco francês, que está completando 25 anos de atuação direta no país, tem uma área muito forte de corporate e investment banking, com uma carteira de R$ 17,5 bilhões.

 

Juntamente com os segmentos de asset e wealth management, essa área representa entre 35% e 45% dos resultados do grupo no país. O banco Cetelem, que atua no varejo, com empréstimo consignado e cartão de crédito, responde por uma fatia de cerca de 20%. A seguradora Cardif, algo entre 30% e 40%. E uma fatia menor, entre 5% e 10%, fica com a Arval, que  faz gestão de frotas de veículos. Considerando todas essas empresas, são cerca de 1,6 mil funcionários no país.

 

A carteira do BNP sofreu uma queda de quase R$ 5 bilhões na passagem de dezembro para junho em função do vencimento de dois créditos específicos, sendo um deles um empréstimo bilionário para o governo do Rio de Janeiro feito em 2017. 

 

Guimarães diz que foram questões pontuais e que a expectativa para este ano ainda é crescer entre 5% e 10%, considerando algumas operações que são feitas aqui, mas não ficam no balanço da unidade brasileira. No ano passado, a carteira saltou 33%, com a forte demanda de grandes empresas por liquidez no início da pandemia.

 

“O ano passado foi muito bom para nós e este ano ainda estamos colhendo os frutos desse sucesso. Temos algumas receitas que vão ser apuradas ao longo do ano e o resultado do segundo semestre deve ser melhor”, diz Guimarães. Na primeira metade de 2021, o lucro foi de R$ 28,116 milhões. O Brasil ainda é uma parte pequena da receita global do grupo, menos de 5%, mas é considerado essencial na estratégia do banco de ter presença em várias regiões, que se integram e complementam, trazendo mais diversidade e resiliência.

 

Apesar de ser muito forte no mercado de dívida, o banco não atua com emissões de ações. Guimarães explica que o grupo não possui licença de corretora no país e que, para oferecer um serviço diferenciado, teria de estruturar toda a área, incluindo research, o que não é simples. Em julho, a matriz comprou a fatia de 50% que ainda não possuía na corretora Exane. A estratégia inicial é que ela estabeleça uma presença nos Estados Unidos, mas mais para frente poderia também vir para o Brasil.

 

O BNP também está de olho no open banking, que no seu caso será obrigatório no próximo ano, e no Pix, que poderia ser integrado para oferecer novas soluções na área de cash management. 

 

Guimarães diz que os clientes ainda não têm demandado esse tipo de ferramenta, mas acredita que é questão de tempo para o Pix ganhar tração nessa área. “Estamos trabalhando para ter essa estrutura pronta”.

 

Por Álvaro Campos — De São Paulo.

https://valor.globo.com/financas/noticia/2021/10/08/pauta-esg-vai-dominar-setor-financeiro.ghtml

 

25 out

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