A crise sanitária global estressou as cadeias de valor de todos os segmentos econômicos. O ambiente de extremo desgaste emocional e fratura de padrões operacionais propiciou movimentos de aceleração de atitudes, como as relacionadas à geração de resultados por meio de práticas de governança atentas a aspectos ambientais e sociais (ESG, na sigla em inglês).
Nesse contexto, as médias e pequenas empresas devem amplificar seu estado de atenção aos sinais que começam a ser emitidos pelas empresas que capitaneiam segmentos de negócios. Estes conglomerados, extremamente dependentes de projeção de imagem institucional desejada por seus investidores, têm sinalizado quais deverão ser as regras para fornecedores permanecerem no jogo.
Um instrumento essencial para se mostrar adequado e atento a esses tempos de mudança são os números e os dados daquilo que a empresa tem praticado dentro de política de esforços para se mostrar devidamente administrada, no azul, preocupada com as questões sociais e atuante para manutenção de níveis da habitabilidade do planeta, preservando o meio ambiente. É isso, em essência, que provê um relatório integrado para apresentação de demonstrativos financeiros e não financeiros. Comprova que o discurso tem base, fundamentos, auditável.
Esses relatórios visam, como define o Conselho Internacional para Relato Integrado ou IIRC na sigla em inglês, melhorar a qualidade da informação disponível a provedores de capital financeiro, permitindo uma alocação de capital mais eficiente e produtiva; promover uma abordagem mais coesa e eficiente do relato corporativo, que aproveite as diversas vertentes de relato e comunique a gama completa de fatores que afetam, de forma material, a capacidade de uma organização de gerar valor ao longo do tempo; melhorar a responsabilidade pela e a gestão da base abrangente de capitais (financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social, de relacionamento e natural) e fomentar o entendimento de suas interdependências; apoiar a integração do pensamento, da tomada de decisão e das ações que focam na geração de valor no curto, médio e longo prazos.
Conforme a geração do empreendedor, tais conceitos podem causar incômodos e desconfortos, seja por sentir que faltam algumas páginas no seu guia pessoal de como fazer o negócio dar lucro ou pela sensação de precisar inverter em recursos para retornos não palpáveis. Ainda que estas percepções se mantenham vívidas, elas, de fato, cada vez mais, pouco importa. Se o negócio estiver atrelado às grandes marcas, enfatizo, são estas empresas que impõem o que querem de sua rede, como, quando e, muitas vezes e cada vez mais, o quanto estão dispostas a pagar para que uma empresa permaneça atrelada ao negócio.
Assim, o que a PME precisa é iniciar processos de ajuste diante dos consumidores cada vez mais preocupados com o meio ambiente e não com preços baixos.
Para cuidar desse ajuste, o primeiro passo é introduzir efetivamente a mudança de cultura da empresa, tendo a liderança papel fundamental neste processo, pois é ela que deverá demonstrar claramente onde querem chegar.
O movimento seguinte é de validar estas expectativas por meio do “conhecer e ouvir” o que dizem todos os stakeholders envolvidos no ecossistema em que atua, visando atender as expectativas dos atuais e futuros clientes. O que se avalia, sobretudo, é a capacidade de satisfazer as necessidades e preferências de diferentes segmentos de mercado, levando, inclusive, à reflexão do significado do “retorno financeiro” e de assimilar uma forma abrangente de risco, não apenas financeiro e econômico, mas também social, ambiental e de reputação.
Na prática, o ponto crucial do que está descrito acima é encontrar a forma adequada e consciente de aplicação, minimizando o impacto financeiro. Afinal de contas, no final do dia, “a conta tem que fechar”.
Esta ação resultará em uma maior valorização da imagem das empresas perante a opinião pública, e principalmente por uma avaliação positiva por parte dos investidores. A consequência será adquirir maior preferência de investimentos em empresas que estejam inseridas nesse contexto. Isto representa uma maior responsabilidade às empresas na forma de reportar. Daí as empresas deverem informar o mercado sobre a evolução desses fatores em sua estratégia e atividade e como poderá beneficiar a rentabilidade no médio e longo prazo.
O aumento de confiança dos stakeholders na empresa, capacidade de gerir e antecipar riscos, reduzindo efeitos regulatórios e de reputação provenientes de impactos negativos no meio ambiente e na sociedade tornam a gestão do ESG vantagem competitiva.
A médio e a longo prazo, as empresas que não adotarem o ESG possivelmente enfrentarão cada vez mais dificuldades por causa do desalinhamento com o que se pode chamar de obrigações para estar no mercado. Isso é muito factível porque os indivíduos das gerações responsáveis pelas mudanças estarão inseridos diretamente nas empresas e serão os consumidores, investidores e os líderes.
Para essas gerações, as empresas deverão assegurar a sustentabilidade das gerações futuras, de forma responsável e criando proativamente procura para produtos e serviços que atendam a estes requisitos.
A falta de informações dificulta um melhor entendimento e avaliação da empresa inserida nesse contexto. As que fazem algum tipo de publicação de demonstrativos financeiros e não financeiros buscam atender à crescente demanda da sociedade por estas informações. Uma das relevantes é a necessidade de informação que possa ser comparada e analisada sob a óptica de médio e longo prazo.
Para que as pequenas e médias empresas possam elaborar relatórios equivalentes às grandes empresas vão precisar rever todos os seus controles e procedimentos internos, ajustando-os ou implementando novos procedimentos decorrentes dessa nova realidade. Além disso, seria prudente e necessário, ter um canal disponível com as grandes empresas para entender, principalmente como atuam em seus processos.
Por Marcello Lopes – CEO LCC Auditores e Consultores para Diário do Comércio